No barril, um menino, Sem nome, com fome, sem sorte, Sem roupa, destino, Seu rumo? A morte. Seus pés amarrados, Seus braços também, Sem ser nem amado, E assim tratado, como um ninguém. Sem forças, magrinho, No rosto, a sede e a dor, Ao sol, tão sozinho, Pois no seu caminho, um monstro cruzou. Um não apenas, Três com certeza, Na sacada pequena, Tiraram de uma vida, a própria beleza. A infância roubada, A esperança no fim, A especial criança, maculada, Sem culpa, remorso ou qualquer coisa assim. O menino, jamais, Será esquecido, Em um mundo que pais, Abandonam o que do ventre é nascido. Entregue ao calor e à crueldade, Aos onze, o amor ainda não conheceu, E o barril, na verdade, Bem mais que a todos o acolheu. Autor: Oziel Soares de Albuquerque www.ozielpoeta.blogspot.com/
Hoje é um dia triste, Como triste é a esposa que chora, Em um mundo que o racismo ainda existe, E não há o que se fazer agora. Não há o que ser dito, E talvez há também, No chão se ouviu um último grito, Um homem, dois homens, "ninguém". Sem voz, sem vez, Sem chance, sem sorte, A vida que o ser humano não fez, Beijou tão cedo os lábios da morte. Eu vejo e não quero, Pois sei que negro também sou, Não pediu glamor ou esmero, Por fútil motivos conheceu a face escura da dor. Amanhã será mais um um? Como hoje a vida que se perdeu, Parece que não há motivo algum, E o passado a sociedade esqueceu. Tantos tempo já foi, Tanta vida foi ceifada, Agora, amanhã e talvez depois, O chão, a vida e um "nada"... Autor: Oziel Soares de Albuquerque www.ozielpoeta.blogspot.com/